Marcelo Ferla

Da primeira vez que entrei no quarto do Ênio foi o gibi do Sandman que me chamou a atenção, estrategica­mente colocado na mesa de cabeceira pela diretora de arte Valéria Verba, que concebeu e organizou o cafofo do garoto. Quando eu era guri como o Ênio, minha primeira leitura de ficção eram os gibis, mas de bangue-bangue, que eu devora­va, sem precisar pagar, e devolvia para a venda. Havia uma banquinha de revistas na esquina de casa, o terreno era do meu avô e meu acesso a mercadoria era privilegiado.
Os gibis são recorrentes em Ponto Zero. E também na vida do Rodrigo Gracio­sa, o fotógrafo do filme, que é designer, formado em comunicação visual, e que trabalhou um bom tempo com ilustra­ção – o que explica o fato de o fã da onda “meio expressionista” de Frank Miller, das histórias dos super-herois da Marvel, de Asterix e dos brasileiros Mauricio de Souza e Laerte, ficar desenhando o tempo todo, fora do set.
– Na primeira conversa que tive com o Zé ele me falou de quadrinhos, conta Rodrigo.
– Ambos temos interesse e referência forte das HQs, e desde então pensei em levar esse gosto para o filme. Não se pode dizer que a linguagem do Ponto Zero seja de quadrinhos, mas é verdade que busquei muitos elementos gráficos nos enquadramentos, com linhas diagonais e a projeção de luz setorizada.