Marcelo Ferla

O Vargas foi um funcionário emblemático do Estádio Olímpico, ex-casa do Grêmio. Durante anos era o primeiro a chegar, pra organizar a casa. Todo mundo podia vê-los nos jogos, embora nem todos prestassem atenção. Vargas era aquele barbudo que cruzava o gramado com um molho de chaves no bolso, cerca de 10min antes de a partida começar. Eram as chaves do estádio, e quando ele surgia, com seu walk talk, vindo do lado do vestiário dos visitantes até o lado das sociais, era porque a bola podia rolar.

Entre tantos, o Sandro Dreher e a Mari Garske foram dos “Vargas” mais importantes do Ponto Zero – o Sandro, por sinal, quando era criança recolhia os cabos de transmissão das equipes de rádio durante os jogos de futebol. Deve ter cruzado com o Vargas muitas vezes. Com mais de 26 anos como produtor, dez meses no projeto Ponto Zero, ele trabalha desde 1987 com o diretor do filme. Assim, fica fácil entender quando afirma que “minha função maior é explicar a personalidade do Zé Pedro para a equipe, porque é preciso se apaixonar pelo diretor, pela história, pelo projeto…”.

Teaser à parte, porque foi feito num etapa muito embrionária do filme, a primeira coisa que ele fez para o Ponto Zero foi escolher a camionete que Ênio dirige. Mas para ela circular pelas ruas da cidade, foi preciso que a Mari fizesse sua parte. Ela tem menos tempo de carreira, mas um bom número de filmes no currículo, tanto quanto as visitas que fez em cada uma das ruas que serviram de cenário para Ponto Zero.

– Na pré-produção tive que conhecer cada canto de cada lugar, fiz umas 30 visitas, a primeira delas já no terceiro dia de trabalho, quando fui na Avenida Farrapos.

Mari fez os fundamentais contatos com os apoiadores institucionais, como Prefeitura, EPTC, Brigada Militar e a Smov, que organizou um esquema para montar o acessório que cobriu os postes:

– Mudamos a intensidade de luz de alguns e apagamos outros, e assim a luz da cidade ficou a favor da que pretendíamos no filme. Era um trabalho diário: as luzes de vários postes de algumas ruas do Quarto Distrito de Porto Alegre eram trocadas ao fim da tarde e recolocadas no final do set, pela manhã.

A EPTC criou rotas alternativas, retornos e desvios para que duas grandes avenidas, a Voluntários da Pátria e a Farrapos fossem fechadas, e a Brigada Militar deu o apoio de segurança ostensivo, porque muitas cenas foram filmadas em regiões perigosas da cidade, e com menos iluminação que o normal. Além disso, auxiliou com viaturas e alguns objetos de cena, e participou efetivamente do filme, quando alguns brigadianos atuaram como figurantes de uma cena em que faziam uma ocorrência policial. Foi abaixo de uma chuva torrencial, mas eles agiram como se estivessem cumprindo seu dever, e saíram de cena com as fardas literalmente encharcadas. Tudo em nome da arte.