Marcelo Ferla

É véspera de feriado e a cidade está vazia e não tem como não pensar em Lou Reed, que morreu há poucos dias. O Martão e o Mineiro inventaram uma intrincada traquitana que, simultaneamente, produz chuva cinematográfica e conduz um carro acima e abaixo pela Farrapos, a mais tradicional avenida dos prazeres pagos de Porto Alegre, o mais histórico paraíso artificial e carnal da capital.

No vai-vém da busca pelo take perfeito, a Floviana, a Ivete, o Japa e a Marlene entram recorrentemente no quadro, emolduradas por desfocados anúncios de neón e um climão de decadance avec elegance. É ali que Ênio dirige madrugada adentro como quem busca alguma coisa, nem que seja só pela literatura.

Me pergunto se ele é forte o suficiente para encarar toda aquela decadência, e quantos Robertos, Andreas, Verônicas, Flávias ou Franciscos ainda vai conhecer nas Farrapos de sua existência, e quantas vezes pensará em ser “James Dean por um dia”, como nos versos de Lou Reed.

Me ponho a pensar no que acontecerá com esse menino perdido na noite, enfrentando a fúria do destino, enquanto eu ouço putas imaginárias sussurrando em meu ouvido, “tchu-tchu-tchu-tchu-tchuru-tchu, tchu-tchu-tchuru-tchu, tchu-tchu-tchuru-tchu. Hey babe, take a walk on the wild side?”